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sexta-feira, 9 de outubro de 2009
A Virgem Aparecida
Dom Pedro Miguel de Almeida Portugal e Vasconcelos, Conde de Assumar, Governador de São Paulo e Minas Gerais, assumira seu posto a 4 de setembro de 1717.
Vinha, com séqüito lustroso, de São Paulo, para fazer solene entrada em Vila Rica, a 1º de dezembro.
A Câmara de Guaratinguetá mandou notificar os pescadores da ribeira para que trouxessem o melhor peixe para a refeição do Governador e seu cortejo ornamental.
Domingos Garcia, João Alves e Felipe Pedroso, moradores nas margens do rio Paraíba, cumpriram a ordem, partindo, manhã cedo.
Do Porto de José Correia Leite, largaram a canoa, atirando no ar, como uma flor, a rede escura da tarrafa.
Inutilmente as horas passavam. Os lanços sucediam-se n’água trêmula do rio tranqüilo. Ia descendo a canoa no Porto de Itaguassu, sol a pino, incandescente. A tarrafa mergulhou mais uma vez e os braços puxaram-na, maquinalmente, sem esperança de fruto.
Enrolada no tecido, quase negra, uma figura fora arrastada do fundo do rio. Os pescadores olhavam o achado, suspenso nas mãos fortes de João Alves.
Era um vulto de imagem feminina, de barro cozido, mãos postas, o burel estreito, colado ao corpo magro, hierárquico. Faltava a cabeça. Os homens tinham pescado, como era dos mártires, o corpo de uma santa.
Pouco adiante, no deslizar da correnteza insensível, outro lanço trouxe à luz entontecedora, a cabeça que faltava.
Completaram a descoberta. Era uma imagem de Nossa Senhora, de invocação desconhecida, humilde obra de santeiro anônimo, guardada pelo rio e trazida à veneração de três pescadores paulistas.
Agora, na tarrafa, não cabe o pescado que surge. Cada lanço é uma torrente de peixes que enche o bojo da canoa, alargando-a com a prata viva das escamas.
Antes do crepúsculo é preciso parar o jogo da tarrafa para que a pequena embarcação se sustenha à flor d’água mansa.
Sobem, cantando de alegria, os pescadores da pesca miraculosa. Felipe Pedroso fica com a imagem. Chamam-na a Virgem Aparecida porque “apareceu”, numa entrega espontânea à posse oblacional dos devotos.
Seis anos Felipe Pedroso a conservou em casa, perto de Lourenço de Sá. Foi morar em Ponte Alta e aí a venerou outros nove anos. Fixou-se em Itaguassu, lugar do encontro, e aí a deu ao seu filho Atanásio Pedroso.
Com trinta e oito centímetros de altura, pobre e simples, a Virgem Aparecida presidia as orações domésticas no santuário rústico da vivenda.
As primeiras “novenas” foram cantadas. Uma noite a lufada de vento apagou as duas velas. Silvana da Rocha levantou-se para reacendê-las. Sem contato, subitamente, as velas iluminaram-se, resplandecentes.
A fama se espalhou. O lugar possuía, num topônimo que a crença explicava, outro batismo. Era Aparecida.
O vigário de Guaratinguetá, Padre José Alves de Vilela, fez construir a primeira capelinha em 1743. O culto era público. A notoriedade excluía a propriedade inicial de Atanásio Pedroso.
Com licença do Bispo do Rio de Janeiro, Dom Frei João da Cruz, benzeu a Capela da Virgem Aparecida e celebrou a primeira missa, a 26 de julho de 1745.
Milagres levaram o nome da Santa Imagem por todos os recantos. Romarias, promessas, divulgações entusiásticas, determinaram a multiplicação da aldeia que cresceu sempre.
A Capela, reformada, começou a ser substituída por um templo digno das graças que a Fé justificava num contínuo louvor. Em 1846 iniciaram-se os trabalhos, lentos, mas seguidos pelas esmolas populares. A 8 de dezembro de 1888 foi inaugurado pelo Bispo de São Paulo, Dom Lino Rodrigues de Carvalho.
No ano jubilar de 1900, Aparecida hospedou brasileiros de todos os Estados da pátria.
Em 8 de setembro de 1904, na presença do Núncio Apostólico, o Bispo de São Paulo, Dom José de Camargo Barros, coroou a imagem, ao som do “Regina Coeli”.
A Capela de 1745 era Basílica em 5 de setembro de 1909.
A imagem de barro, deparada nas águas do Paraíba, invocação de “Nossa Senhora da Conceição Aparecida”, foi declarada pelo Papa Pio XI, em decreto de 16 de julho de 1930, “Padroeira Principal de todo o Brasil”.
No altar-mor da Basílica, na Aparecida do Norte, em São Paulo, com manto de estrelas, coroa de ouro, mãos postas, está a Virgem que apareceu das águas, vinda pela mão de pescadores, para a veneração do Brasil...
http://www.terrabrasileira.net/
às
22:48
Postado por
Suely C Bezerra
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