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Jesus o Grande Mestre.

Image and video hosting by TinyPic Jesus Cristo, Yeshua ben-Yoseph "A Cada Um Será Dado De Acordo Com Suas Obras "

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sexta-feira, 9 de outubro de 2009


A devoção a Nossa Senhora de Nazaré, a mais importante do estado do Pará, no Brasil, tem suas origens em Portugal. Seu caráter lendário não lhe seqüestra a beleza. Antes de sabermos algo sobre o surgimento da devoção no Brasil, recorramos às informações que encontramos num artigo do autor português Pedro Penteado, " A construção da memória nos centros de peregrinação", publicado na revista Communio, n. 4, 1997. O articulista apresenta a devoção a partir de uma visão crítica. Mantemos a grafia lusa:

"Durante séculos acreditou-se que o santuário da Senhora de Nazaré tinha sido um dos mais antigos do país, fundado na sequência do milagre da Virgem ao cavaleiro D. Fuas Roupinho, em 1182. A narrativa que suportava esta convicção de milhares de peregrinos fornecia todos os pormenores: a imagem da Senhora tinha sido esculpida no Oriente por São José, na presença da Mãe de Cristo. Depois passou por várias vicissitudes até chegar ao Mosteiro de Cauliniana, em Mérida. Com a derrota dos cristãos em Guadalete, o rei godo D. Rodrigo refugiou-se no mosteiro. Perante o avanço islâmico, o rei e Fr. Romano, um dos monges ali residentes, decidiram partir para lugar seguro, levando consigo a pequena imagem mariana e um cofre com caixa com relíquias e um relato das circunstâncias da fuga. Chegaram em Novembro de 714 ao monte de São Bartolomeu, nas proximidades da actual Nazaré. O monarca e o monge separaram-se, tendo o primeiro permanecido no local e o segundo levado o ícone e as relíquias para um monte vizinho. Aí, Fr. Romano, para se abrigar, construiu um pequeno nicho entre os rochedos. Com a sua morte e a partida de D. Rodrigo para norte, a imagem ficou esquecida na pequena lapa construída pelo monge, no actual promontório do Sítio (Nazaré).


Basílica de Nossa Senhora de Nazaré Apenas no século XII, seria descoberta por D. Fuas Roupinho, que a venerava sempre que ali se dirigia para os prazeres da caça. Em, 8 de Setembro de 1182, um dia de névoa, o cavaleiro teria sido atraído por um veado em direcção ao abismo do promontório.

No momento em que o cavalo chegava ao extremo do rochedo, prestes a lançar-se no precipício, D. Fuas teria evocado a Virgem, lembrando a sua Imagem, depositada ali próximo. Imediatamente o cavalo estacou a sua marcha e, por milagre, D. Fuas salvou-se.

Em sinal de agradecimento, o cavaleiro, alcaide de Porto de Mós e almirante de D. Afonso Henriques, doou aquele território à Senhora de Nazaré e mandou ali edificar uma ermida. Atraídos pela fama do milagre vieram os primeiros romeiros, entre os quais o primeiro rei português e os principais nobres da sua corte.

Esta versão do passado do santuário foi contada a primeira vez nos finais do século XVI, pelo cronista Fr. Bernardo de Brito, monge bernardo de Alcobaça. O relato assentava na carta de doação do Sítio por D. Fuas Roupinho, que o cronista teria descoberto no seu Mosteiro e viria a publicar na obra Monarquia Lusitana. Mas a intervenção de Fr. Bernardo de Brito não se ficou por aqui. Cerca de 1600, na sequência de um voto pessoal, deslocou- se ao santuário e, com a ajuda de alguns devotos da Senhora, mandou desentulhar a gruta subterrânea para ali fazer uma capela. Por fim, colocou nela um letreiro em que registava toda a "estória" da Sagrada Imagem. Desta forma, o cronista não só alargava o espaço de culto como procedia a alterações da memória histórica, pois pela primeira vez a Virgem de Nazaré era associada a D. Fuas Roupinho.

A divulgação da narrativa do milagre trouxe um aumento de peregrinos ao pequeno templo do Sítio, contribuiu para o crescimento do povoado e para a multiplicação do número de milagres atribuídos à Virgem de Nazaré, com o conseqüente acréscimo da quantidade de oferendas dos fiéis.
O carro dos milagres

Por outro lado, esteve na origem de novas práticas devocionais, pois cada vez mais romeiros procuravam ver a marca da pata do cavalo gravada na rocha do promontório. Outros levavam consigo pedaços de terra da gruta onde a imagem da Senhora estivera escondida durante séculos.

Vários factores contribuíram para a rápida aceitação da narrativa por parte dos devotos. Entre eles, contam-se o prestígio do mosteiro de Alcobaça enquanto guardião de alguns dos mais antigos manuscritos do Reino, a possibilidade de comprovar as afirmações do monge através de vestígios concretos, a cor escura da imagem, que só por si confirmava a antiguidade da mesma, o enquadramento da lenda dentro dos esquemas das narrativas cavaleirescas e de origem dos santuários, ou ainda o facto da lenda vir ao encontro das necessidades de maravilhoso sentidas pelos devotos e transportar consigo uma carga simbólica apreciável (cf. dicotomia fiel/infiel, bem/mal, salvação/perdição, cosmos/caos, etc).


Interior da Basílica de Nossa Senhora de Nazaré Existem, contudo, outros factores que devem ser tidos em linha de conta para compreender a incorporação desta narrativa na memória colectiva dos portugueses. Em primeiro lugar, a sua transmissão por meios diversificados e de grande capacidade difusora.

Assim, ao sucesso da oralidade dos primeiros anos, que comportou alterações da versão monástica, correspondeu uma extraordinária divulgação por meios impressos a partir da década de 1620.

No final do século XVII, a lenda da Senhora de Nazaré tinha já sido publicada em mais de uma dezena de obras, em língua portuguesa e espanhola. Não esqueçamos ainda a sua divulação por meios iconográficos. A Senhora, que até aí era vista como uma Virgem do Leite, passou a ser constantemente representada na cena do milagre do cavaleiro. Esta imagética foi levada ao extremo através da sua permanente inclusão em retábulos, bandeiras, círios, medalhas, medidas e registos e outros objectos de grande capacidade evocativa.

A estratégia resultou em pleno, sobretudo a partir de meados do século XVII, quando os registos iconográficos foram legitimados pela associação da heráldica da Casa Real portuguesa. Um outro aspecto propiciatório foi, obviamente, o conjunto das peregrinações ao santuário, que serviu como factor de actualização, comemoração e evocação cíclica do milagre. Por último, talvez o factor mais interessante tenha sido a capacidade de silenciamento das memórias concorrentes do santuário. Logo na primeira metade do século XVII se começou a desenhar uma certa contestação à sua memória histórica, por parte do Mosteiro de Alcobaça, uma vez que esta anulava os direitos senhoriais dos bernardos sobre o Sítio. Contudo, a intervenção da Coroa, salvaguardando os direitos jurisdicionais da Confraria da Senhora e do rei sobre o local, veio reforçar a autenticidade atribuída à pressuposta doação de D. Fuas e ao seu conteúdo.

Hoje, sabe-se que o documento da doação de D. Fuas, que nunca foi encontrado, não tem qualquer fundamento histórico.

Não existe nenhum manuscrito coevo que confirme a existência daquele cavaleiro. A imagem da Senhora, trabalho de oficina regional datado dos séculos XIV-XV, também não permite aceitar, sem reservas, a historicidade duma das mais belas lendas portuguesas".
Plácido encontra a imagem de Nossa Senhora de Nazaré

No Pará a devoção à Virgem é também envolvida em lenda. Plácido, o precursor do culto teria encontrado a pequena imagem em madeira de Nossa Senhora de Nazaré às margem do Igarapé Murutucu, que corria pela atual travessa 14 de Março onde hoje ficam os fundos da Basílica de Nossa Senhora de Nazaré. Imaginando que algum devoto da cidade de Vigia havia esquecido a imagem ali, levou-a para casa. No dia seguinte não a encontrou. Ela havia retornado ao igarapé. Nova tentativa, novo retorno da imagem ao nicho que havia escolhido. A imagem então teria sido levada para a capela do Palácio do Governo da Província, onde ficou guardada por escolta. De manhã, não havia nada na capela, a imagem havia retornado ao igarapé. Obedecendo os desejos da Virgem, à beira do igarapé foi construída uma ermida, que deu início à romaria e à devoção do povo paraense à Virgem de Nazaré.

A primeira procissão do Círio de Nossa Senhora de Nazaré saiu na tarde do dia 8 de setembro de 1793. Na noite anterior, a imagem da Santa havia sido transferida de sua ermida na Estrada do Utinga para o Palácio do Governo. Tempo mais tarde, a procissão passou a sair no segundo domingo do mes de outubro e, duzentos anos depois a procissão faz o mesmo percurso, de cerca de cinco quilômetros, saindo do Palácio do Governo, hoje Palácio Lauro Sodré, levando a Santa para o mesmo lugar onde havia a ermida e hoje ergue-se a imponente Basílica de Nossa Senhora de Nazaré. A primeira procissão foi acompanhada por toda a tropa aquartelada na cidade, os cavalheiros montados em seus melhores cavalos, as damas carregadas em seges, o povo a pé em torno do carro que transportava a Santa. A imagem ia no colo do padre capelão e o próprio governador da Província, Dom Francisco de Souza Coutinho, acompanhava o cortejo trajado com uniforme de gala. Dom Francisco Coutinho, que havia organizado a homenagem à Santa, estruturou também aquela que iria ser a maior manifestação religiosa do Pará e uma das mais impressionantes demonstrações de fé religiosa dos católicos. Com o tempo a procissão sofreu algumas modificações, como a inclusão do Carro dos Milagres, que lembrava a salvação do fidalgo português Dom Fuas Roupinho, o barco que lembrava a salvação dos náufragos do brigue São João Batista, a corda que substituiu a junta de bois que puxava o carro da Santa, e o carro dos fogos, que com muito barulho precedia o cortejo religioso. Já neste século, o poeta maranhense Euclides Farias compôs o hino " Vós Sois o Lírio Mimoso", que se consagraria como o Hino do Círio, e hoje identifica a procissão sempre que é cantado. O primeiro Círio mobilizou gente de toda a redondeza de Belém, principalmente em função da feira que o governador determinou que fosse instalada no terreno que circulava a ermida, para a venda de produtos regionais. Nos duzentos anos em que o Círio de Nazaré vem sendo realizado, é a cada ano maior o movimento de romeiros. Hoje calcula-se em mais de um milhão o número de pessoas que saem às ruas para celebrar a Virgem de Nazaré.

A corda foi uma das primeiras modificações sofridas pela procissão do Círio de Nazaré. Nos primeiros círios, a imagem da santa era carregada no colo do bispo, num carro puxado por juntas de bois. Em 1866 o carro com a Santa atolou, sendo necessária a intervenção do povo, que tirou o carro do atoleiro com uma corda. Desde 1868 a corda foi incorporada à procissão. Depois a corda passou a separar a berlinda da multidão. Este é o sacrifício maior para o fiel que acompanha o Círio: segurar a corda. Mulheres numa corda, homens em outra, todos descalços, vão se empurrando, pisando, esmagando ao longo de todo o trajeto. Ao final, cheios de calos, pisaduras e feridas nos pés, são os fiéis mais realizados, por terem cumprido o sacrifício prometido. A corda sempre foi motivo de polêmica, havendo aqueles que procuram eliminá-la da procissão, pela enormidade do sacrifício exigido. Em 1926, o arcebispo de Belém, dom Irineu Joffily, baixou uma bula proibindo o uso da corda e determinando outras alterações na procissão. Foi o Círio mais tumultuado da história, tendo sido necessária a intervenção da polícia para cumprir as ordens do arcebispo. Até 1931 prevaleceu a vontade de dom Irineu, apesar das reações populares e dos protestos da imprensa. Neste ano, assumiu o governo do Pará o interventor Magalhães Barata, que apelou para o Ministério das Relações Exteriores do Brasil e para o Núncio Apostólico da Igreja Católica, para que fosse permitido o retorno da corda. Magalhães Barata conseguiu o que queria, para a enorme satisfação do povo. Desde então, sempre há alguém querendo eliminar a corda, sem nunca obter sucesso.

O carro dos milagres foi introduzido no ano de 1805, por pedido da Rainha de Portugal, dona Maria I, para lembrar o primeiro milagre relatado da Virgem de Nazaré, que salvou o fidalgo dom Fuas Roupinho da morte num abismo. O carro dos milagres é o depositário das ofertas feitas à Virgem pelos fiéis, em reconhecimento pelas graças alcançadas. Réplicas de casas que o romeiro conseguiu, de embarcações salvas do naufrágio, de partes do corpo humano em cera, curadas por intervenção da santa.

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